Celeste e a Mitologia Grega

Divulgação: Laura cantando Celeste.

Muitas pessoas têm o hábito de colocar o CD pra tocar e curtir apenas o som, deixando-se perder a essência da música. Existem diversas letras de canções que são absurdamente complexas, carregando nas entrelinhas um conteúdo infinitamente maior que o poema que acompanha a canção. Esse é o caso de Celeste.

Obviamente, sobretudo nas primeiras vezes que a escutamos, observamos apenas o superficial da letra, possivelmente notando o teor da música como um todo, no caso, uma composição falando de uma suposta  futura vinda de um filho (a) de Laura. Muita gente inclusive foi mais além deduzindo que o nome “Celeste” seria o nome da criança.

Em uma superficial busca pelo significado do nome, descobrimos que “Celeste” significa aquele (a) que vem do céu, divino. É também o nome de uma deusa púnica, musa da astronomia, cuja qual, equivale a Urânia na mitologia grega. Na Itália em especial, o nome é utilizado para ambos os gêneros, apesar de ser mais comum em mulheres. Mas por enquanto não vou focar no nome "Celeste".

Para entender melhor a respeito desse complexo texto, se faz interessante inicialmente observar com atenção à algumas frases e versos específicos, como por exemplo: "Arriverai con la luna di settembre" (“chegará com a lua de setembro”) um verso possui um significado bastante profundo. Como todos devem saber, setembro é o início do inverno no hemisfério norte. A mitologia grega, a fim de explicar as mudanças das estações, criou o mito de Perséfone, mulher de Hades, filha de Zeus e Deméter.  

Quando os sinais de grande beleza e feminilidade de Perséfone começaram a brilhar (em sua adolescência) chamou a atenção do deus Hades que a pediu em casamento. Zeus, sem sequer consultar a Deméter, aquiesceu ao pedido de seu irmão. Hades, impaciente, emergiu da terra e raptou-a enquanto ela colhia flores com as ninfas, entre elas Leucipe e Ciana, ou segundo os hinos Homeroicos, a deusa estava também junto de suas irmãs Atena e Artemis. Hades levou-a para seus domínios (o mundo subterrâneo), desposando-a e fazendo dela sua rainha.

Zeus ordenou que Hades a devolvesse aos Deuses, porém Perséfone havia provado da semente de romã, que de acordo com o mito, era uma forma de ela não ter rejeitado o inferno. Sua mãe, Deméter, ficando inconsolável, acabou por se descuidar de suas tarefas: as terras tornaram-se estéreis e houve escassez de alimentos, e Perséfone recusou-se a ingerir qualquer alimento e começou a definhar, fato que fez surgir o inverno, símbolo da sua tristeza e da não fertilidade da terra, que ficara improdutiva. Contudo, Zeus estabeleceu um acordo com Hades, o qual previa que Perséfone passaria metade do ano no inferno e a outra metade com a sua mãe. Quando Perséfone estava no inferno, a tristeza de sua mãe tão grande, que a Terra sofria junto, passando pelo outono e o inverno. Quando Perséfone voltava para casa, sua mãe ficava alegre novamente, e aos poucos ia se recompondo, originando a primavera (começo, quando Deméter recebe a filha) e o verão, auge de sua alegria na presença da filha. 

Assim sendo, voltando na música da Laura, o filho, seria concebido no começo de setembro, ou seja, no inverno, nascerá no verão, momento então, de plena alegria de uma mãe! 

A partir daí podemos entender o verso “Mentre la tenera luce dell'est, all'alba illumina speranze e Ginestre” (“enquanto a suave luz do leste ao amanhecer ilumina esperanças e Ginestras...” - sendo “ginestra” uma espécie de planta arbustiva que na primavera transforma a paisagem mediterrânea em amarelo), no Equinócio da Primavera (entre o dia 19 e o dia 21 de Março), o Sol nasce a Leste e põe-se a Oeste, justificando assim a “luce dell’est”.

Adiante podemos observar o seguinte verso: “Volerai via, verso l'isola lontana di una città...” (“Irá embora voando, para uma ilha distante de uma cidade...”). Segundo a mitologia Grega o mundo dos mortos é dividido em dois lados separados pelo rio Aqueronte. De um lado está o Tártaro, lugar da expiação dos maus, onde os injustos pagam as suas culpas; do outro lado os Campos Elísios, conhecidos também como a ilha dos Bem-Aventurados, lugar no mundo das trevas onde os que foram bons em vida usufruem, depois de mortos, as recompensas das suas ações. E assim Celeste também retornaria a essa ilha, de sua origem.

Ainda na mitologia grega, existe uma Deusa, filha de Hades com Perséfone, chamada Celestas, que é a deusa da destruição, irmã de Macária (deusa da boa morte) e Diaras (deusa dos campos), ambas habitavam os Elíseos. E, na música, tem fortes indícios de ter sido uma corruptela para 'Celeste'.

Antes de encerrar a postagem, gostaria de agradecer ao Raphael Palermo, que a partir de uma conversa com uma sua professora sobre o assunto, acabou compartilhando o que ouviu e nos abriu os olhos quanto à profundidade da música.

Referência Bibliográfica: